Dados do Trabalho


Título

ASFIXIA AUTOEROTICA - QUANDO A VERGONHA MARCA A CENA

Introdução

A asfixia autoerótica é bem definida segundo Sauvageau e Geberth como a morte acidental que ocorre durante a atividade sexual individual e solitária em que algum tipo de instrumento ou aparato foi utilizado para aumentar a estimulação sexual da vítima na origem de uma morte não intencional. A hipóxifilia é um fenômeno recorrente na medicina forense, mas apesar de sua recorrência, é de rara descrição nos países de língua portuguesa, a sua identificação e sobretudo a sua documentação costuma ser dificultada pela intervenção de terceiros que manipulam e descaracterizam a vítima ou desfazem o local da morte, em regra, imbuídos por natural e opróbrio sentimento.

Metodologia/ Discussão

Apresentamos o relato de um homem de 50 anos encontrado, já cadáver, por familiares que relataram que teriam encontrado a vítima suspensa por uma corda que, entretanto, foi cortada.
O cadáver deu entrada no serviço de patologia forense com história de suicídio. A vítima vestia apenas “collants”, boxers e uma t-shirt e era acompanhada de umas folhas de papel higiênico e uma longa corda disposta em forma de laçada no pescoço, com a presença de um anteparo macio entre o pescoço e o laço. Após a retirada deste laço observou-se a presença de um sulco, pouco marcado pela proteção deste anteparo. Os achados necroscópicos revelaram acentuada congestão visceral e presença de petéquias subpleurais, sinais inespecíficos, mas compatíveis com sinais gerais de asfixia. O Exame toxicológico foi negativo para drogas de abuso, medicamentos e etanol. A histologia foi compatível com os achados macroscópicos de congestão.

Marco Conceitual/ Fundamentação/ Objetivos

A forma como se encontrava dobrado o papel higiênico, a presença dos collants, a posição peniana demonstrada pelos seus livores, compatíveis com eventual ereção recente, eram compatíveis com um gesto de masturbação. A saída de sêmen do pênis deve ser interpretada com cautela uma vez que esta também pode ser um artefacto ou mero fenómeno agónico.
Mas diante desta suspeita, foi solicitada à polícia que nos disponibilizasse as fotografias do local de morte. Nas fotos do local foi possível observar a presença de um par de sapatos femininos, cujo tacão de um dos pés estava partido e ainda com a presença de laços que se comunicavam com o restante do aparato, que incluía um forte elástico, que a vítima usou de forma a permitir um gesto de hipóxifilia. Foi justamente a quebra deste tacão, que ficou no local de morte, que provavelmente terá desencadeado o acidente que culminou no desfecho fatal.

Resultados/ Conclusões

Este caso demonstra a importância da autópsia médico legal e da correlação dos achados necroscópicos com o local de morte na investigação da etiologia jurídica da morte, demonstrando que aquilo que se acreditava ser um suicídio era na verdade uma morte acidental, no contexto de uma asfixia autoerótica. A documentação e o relato destes casos são fundamentais para que os peritos possam estar familiarizados para reconhecer detalhes que costumam ser ocultados de forma que não se descubra a “vergonha da verdade”.

Considerações Finais

O trabalho apresenta uma revisão bibliográfica sobre o tema, quando o sexo leva a morte, com diagnósticos diferenciais entre suicídios x acidentes, discutindo mitos e aspectos periciais importantes na caracterização necroscópica destes casos.

Bibliografia

Byard RW. Autoerotic death: a rare but recurrent entity. Forensic Sci Med Pathol. 2012 Dec;8(4):349-50. doi: 10.1007/s12024-012-9319-0. Epub 2012 Feb 17. PMID: 22350823

Área

Sexologia Forense

Autores

CARLOS DURÃO